EDUCAÇÃO, EXCLUSÃO E ALTERIDADE...


A educação deve partir do pressuposto de que o ser humano é um ser livre. Todavia para J. P. Sartre “todos somos condenados à liberdade”, ou seja, o que escolhemos é que nos dá a liberdade, porque “liberdade absoluta” não existe. Como afirmava Michael de Montaigne: “a verdadeira liberdade é poder tudo sobre si mesmo”. Contudo, o princípio que deve nortear a liberdade é fazer-se livre com responsabilidade. E. Kant afirmava: “eu dou a mim mesmo a própria lei” (imperativo categórico). Partindo deste princípio, há duas maneiras de agir: ação conforme o dever e ação por dever. Qual a diferença entre elas? Na ação conforme o dever os atos são por inclinação que vem de fora, ou uma determinação externa (ação heterônoma). Na ação por dever acontece justamente o contrário da heteronomia, ou seja, a autonomia. Ação conforme o dever não tem valor moral porque é conduzida por fatores externos, é obrigação. Por outro lado, ação por dever é uma ação autônoma, portanto tem valor moral, porque parte do princípio interno da autoconsciência. Ação por dever também é subjetiva, pois valoriza o ser humano enquanto fim em si mesmo e não como meio.
Contudo, o que presenciamos na cultura ocidental é um novo holocausto do ser humano. Há tantas vidas encurraladas, manietadas, torturadas, que se desfazem e à margem de uma sociedade que não os vê ou, finge que não os vê. Entre esses despossuídos ergue-se uma espécie de vidraça cada vez menos transparente. E como são cada vez menos vistos, como alguns os querem ainda mais apagados, riscados, rejeitados dessa sociedade, eles são chamados de excluídos. Porém, ao contrário, eles estão aí, na realidade incluídos até a medula de cada um de nós. Incluídos em descrédito. Observados, mas Ignorados. Sem direto à liberdade social, porque alguns poucos acham que a liberdade deles é o fim da sua própria. Todavia, a liberdade começa quando garantimos a liberdade do outro, na realidade ela não termina nem começa, pois a liberdade está sempre em construção. Não podemos, em hipótese alguma, servir de obstáculo à liberdade do outro, é nosso dever garantir a liberdade do outro. Só há moral, justiça e direitos quando garantimos a liberdade do outro. Muitas vezes ficamos presos e dominados por regras, regrinhas, picuinhas e minúcias, a tal ponto que esquecemos o grande horizonte daquilo que realmente tem importância na vida. Na educação há coisas e atitudes que são obstáculos para a construção e garantia da liberdade para os alunos. Não raro, o ser é deixado de lado, a construção do ser humano em si é relegada a segundo ou terceiro plano, e passa-se a dar mais importância para uma vírgula ou um ponto que foi esquecido. Todavia, vale refletir: o que realmente tem valor e importância na educação? Deveria ser o homem em si e na sua totalidade. Porém, o que ainda orienta a educação é a ação conforme o dever, o que não é de todo errado, afinal, a sociedade é construída e orientada por este princípio; entretanto, a educação precisa ir mais além e ser conduzida pelo princípio da ação por dever, precisa olhar para a beleza e a complexidade do ser humano enquanto ser em constante estado de educação.
A questão é a transformação do profissional da educação, a mudança de paradigma e o objetivo de não ser um obstáculo à liberdade do outro. Faz-se necessário ter uma postura fenomenológica e não apenas positivista frente aos alunos. Criar obstáculos é fácil, olhar as picuinhas e esquecer do ser humano. Mas construir a liberdade garantindo que ela esteja no outro não é tarefa simples. Reprimir e sufocar aqueles que, segundo nossa visão, estão agindo fora do dever, é desconstruir a liberdade. Por outro lado, é fundamental possibilitar que crianças e adolescentes se reconheçam como seres humanos e consigam conviver harmoniosamente com o que eles têm em seu coração. Por isso o educador é um eterno tentador, sempre tem que tentar, tentar, tentar. Os alunos percebem quando o professor entra na sala de aula, se está animado ou desanimado. Também percebem quando o professor está agindo apenas conforme o dever (heteronomia), ou agindo por dever (autonomia). O professor deve estar autoconsciente do valor dos seus alunos enquanto seres humanos em si mesmos, e não apenas como meios de receber os conteúdos.
Para que essa prática seja possível, é necessário a prática da ética da alteridade. Segundo Michael Foucault, “esta é a ética que dá mais conta das relações humanas”. Para Emmanuel Lévinas, o princípio da ética da alteridade é o respeito pelo diferente. O rosto do outro nos convoca, nos interpela e nos convida. A ética da alteridade no rosto do outro revela o seu infinito. Esta ética quebra os paradigmas tradicionais estabelecidos por outras éticas. O que identifica o outro é o seu rosto, e é muitas vezes no rosto do outro que eu encontro a minha própria identificação. Cada rosto é diferente, mas me dá o sentido do respeito, face a face, olho no olho (alteridade), eu me vejo no outro, pois há uma interpelação quando estamos diante do rosto do outro. Quando o professor aprender a olhar no rosto de seus alunos e não apenas no diário de classe, quando permitir ser olhado, o senso do respeito ao outro e ao que é diferente, surgirá. Este senso surge quando identificamos o rosto e permitimos ser identificados. Apreender o sentido e o infinito no rosto do outro é a ética da alteridade. Ensinar os alunos a respeitar o outro é ensiná-lo a ver o rosto do outro. Muitas vezes para ver o rosto do outro é preciso olhar com outras lentes, de preferência com a lente do outro, e procurar ver como o outro vê.
Nosso discurso hoje não pode estar embasado em éticas reducionistas, mas na ética da alteridade. A prática está enraizada na teoria, no discurso, na fala. Sendo assim, que tipo de fala (teoria) está fundamentada a prática da educação? Que discurso e que ética está sendo teorizada em sala de aula? Porventura serão discursos antagônicos? Discursos que revelam uma prática excludente? Deve-se levar em consideração que ética não é apenas um discurso, mas a vida. Ética da alteridade não é um discurso vazio, deve primeiro ser interiorizada, introjetada e vivida, para que possa criar laços e não separar ou romper. Há muitas “verdades” cristalizadas na educação que precisam ser jogadas fora, pois são excludentes e ferem a ética do diferente, da alteridade, a qual é a favor da inclusão. Educação, seja no nível que for, não é mais doutrinar e excluir o diferente, por isso deve estar centrada num comportamento e numa atitude ética de alteridade. Éticas reducionistas levam à discriminação, enquanto que a ética da alteridade leva a uma prática de respeito e tolerância, pois esvazia o indivíduo do preconceito. Há discursos que levam a princípios de verdades que são excludentes, o grande desafio para a educação e para educadores é usar o discurso da ética da alteridade para que as ações sejam de inclusão. E tudo isso começa pelo olhar o rosto do outro, prestar atenção e saber ouvir o outro olhando em seus olhos e vendo de perto o seu rosto (alteridade). Não é um olhar superficial, é um olhar de empatia, sentir o que o outro sente, sentir o que pensa e como vê a vida. Resumindo, é uma ética da alteridade empática. Com que autoridade um professor ou educador pode estabelecer juízo de valor e definir o que é e o que não é? Se o seu discurso estiver baseado numa ética reducionista, certamente a sua prática pedagógica de ensino-aprendizagem será excludente do diferente. Todavia, se o seu discurso tiver como parâmetro uma epistemologia da ética da alteridade, a sua prática pedagógica será libertadora dos estereótipos, pré-julgamentos, preconceitos e exclusão do diferente, pois sua prática será face a face, olho no olho, tendo como resultado o respeito pelo outro como ser humano único e especial. Para tanto, talvez seja necessário quebrar paradigmas ultrapassados, quebrar o próprio conhecimento construído de maneira fragmentada e formatado para não ver o rosto do outro. Se isso for preciso, será necessário ao mesmo tempo, alimentar o espírito com novos paradigmas com embasamento teórico epistemológico a favor da ética da alteridade. Para isso, é essencial e sumamente necessário ter humildade.
Os alunos percebem se o professor é coerente ou não, se está fazendo um bom trabalho ou um papelão na frente deles. A ética da alteridade pressupõe um comportamento de imparcialidade, justiça, humildade e apreensão do outro, do que é diferente. Assim, ter ética é ter uma atitude positiva perante o outro, pois ética é uma ação que não causa sofrimento em alguém. Uma pessoa ética torna o ambiente saudável. Fazer uma reflexão e uma auto-avaliação é fundamental para que o professor ou educador possa rever seu discurso, sua postura ética e consequentemente sua prática pedagógica. A coerência entre teoria e prática é fundamental na educação. O grande desafio, é formar uma consciência crítica autoconsciente, e estabelecer uma coerência entre a epistemologia da ética da alteridade e a prática desta ética no cotidiano das relações interpessoais, seja dentro da comunidade escolar ou na própria vida.

BILBIOGRAFIA:

DUSSEL, Enrique. Ética Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1987.
OLINTO, Pegoraso. Ética é Justiça. 5a Edição, Petrópolis: Vozes, 2000.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 19a Edição, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
FORRESTER, Viviane. O Horror Econômico. São Paulo: Unesp, 1997.


Jorge N. N. Schemes – (47) 91083954
Bacharel em Teologia – SALT/IAE – São Paulo – SP
Licenciado em Pedagogia – Administração Escolar – ACE – Joinville – SC
Pós-Graduado em Interdisciplinaridade – IBPEX/UNIVILLE – Joinville – SC
Estudante de Pós-Graduação em Psicopedagogia – IBPEX/FACINTER – Joinville – SC
Estudante de Ciências da Religião – FURB – Blumenau – SC
Técnico Pedagógico – GEREI – Joinville - SC

TELEVISÃO E EDUCAÇÃO...

O ADVENTO DA TELEVISÃO E A EDUCAÇÃO
Por: Jorge Schemes

http://geocities.yahoo.com.br/edu_midia/edu_midia.html

Depois do gigantesco passo dado pelos irmãos Lumière e do impacto do cinema na vida de milhões de pessoas, a televisão foi outra “revolução visual” que marcou as nações de todo o planeta, e trouxe profundas transformações no pensamento, cultura, costumes e valores, principalmente das sociedades mais desenvolvidas, afetando direta ou indiretamente a educação. O advento da televisão, bem como a sua rápida popularização, tornando-se o principal meio de comunicação de massa e formação de opinião, conquistou lares e corações e causou um segundo impacto na maneira de “ver” o mundo. “A TV pode ser considerada como uma invenção relativamente recente. Em 1926, o escocês John Logie Baird (1888-1946) fez a primeira demonstração pública da televisão. Três anos antes, porém, o engenheiro russo-americano Vladimir Zworykin (1889-1982) inventara o tubo eletrônico de câmera (iconoscópio), que é a base dos aparelhos de televisão usados até hoje”
A TV começou com o formato de um grande tubo, cheio de válvulas e no máximo em duas cores, preto e branco. Adquiriu popularidade nas décadas de 40 e 50, quando ela começou a ser aperfeiçoada. Não demorou muito para que ela se tornasse o objeto dos sonhos de consumo dentro das sociedades capitalistas, contrariando as previsões mais pessimistas, como a do Cineasta Americano Darryl F. Zanuck (1902-1979), o qual disse que a televisão não poderia se manter muito tempo no mercado. Pois as pessoas logo se cansariam de passar à tarde olhando um “caixote”. Assim, vencendo a expectativa de Zanuck, inicialmente a TV foi implantada nos países mais ricos como os Estados Unidos, Inglaterra e França, para depois chegar aos países em desenvolvimento como o Brasil, que desde a década de 50, com o surgimento da TV Tupi, começou a industrializar televisores num ritmo sempre crescente. Como era de se esperar, a TV também conquistou o coração e os lares do povo brasileiro, segundo estatísticas, “Existem hoje mais de 800 milhões de aparelhos de televisão num mundo de quase 6 bilhões de habitantes. Mais de 90% dos lares europeus e norte-americanos têm um receptor. No Brasil, cerca de 75% das casas possuem televisor”.
Não é por acaso que, pelo menos uma parcela do povo brasileiro, prefere tomar água morna (falando de maneira irônica) do que deixar de ver TV. Isso porque o nosso país tem mais televisão do que geladeira, apesar do clima tropical. São mais de 33 milhões de aparelhos de TV. Segundo pesquisa por amostra de domicílios, realizada em 1996 em todo território nacional, e divulgada em novembro de 1997, “o número de domicílios com aparelho de TV era de 84,3%. E com geladeiras, 78,2%”.
A televisão passou a ser mais importante do que qualquer outro eletrodoméstico. Nunca ouvimos falar que outro aparelho merecesse e tivesse sua salinha exclusiva com cadeiras cativas. As tevês dão tantas alegrias, provocam tantas emoções, “ensinam” tanta coisa às pessoas que não podem simplesmente ser chamada de aparelhos. Às vezes fazem mais companhia do que um ser humano, outras, chega a se tornar fetiches. No Brasil não é incomum barraco de favelas (onde muitas vezes se passa fome) possuírem antenas parabólicas para uma melhor recepção de TV.
Se em nosso país há mais televisores dentro de casa do que geladeiras, nos Estados Unidos da América o número de lares que possuem um aparelho de televisão é maior do que o de casas com água encanada. E na maioria deles, o televisor fica ligado cerca de sete horas por dia. E o que é pior, um em cada oito adultos confessa ser viciado em televisão, segundo relatório do periódico americano New Yorker. No Brasil a dependência da TV não parece muito diferente da realidade americana. Como será analisada noutro capítulo, segundo estudos divulgados pela UNESCO, a média brasileira está entre as maiores do mundo, quatro horas por dia na frente da telinha.
O surgimento das antenas parabólicas e, sua aplicação doméstica nos Estados Unidos na década de 70, proporcionando a seus usuários o privilégio de acompanhar o que vai pelo mundo das imagens no mesmo instante em que entram no ar, provocou uma verdadeira revolução nas comunicações. A febre contagiou todo mundo. O fato de essas antenas permitirem captar emissões de TV do mundo inteiro, abriu espaço a mudanças culturais capazes de influir profundamente no perfil das sociedades do futuro. Quando um aparelho de TV está ligado a uma antena parabólica e ela está voltada para a órbita de determinado satélite, é como se uma verdadeira avenida se abrisse para as ondas eletromagnéticas. Elas partem da estação rumo ao espaço, atingindo o satélite que as reflete para a terra, onde são colhidas pelo prato da antena parabólica. Essa trajetória está livre de interferências, e o resultado obtido é mais nitidez na imagem e no som. Tal vantagem nem sempre é o principal motivo que leva alguém a adquirir uma parabólica. A televisão a cabo, que surgiu por volta de 1948 nos Estados Unidos e no Brasil em 1976, é outro sistema de transmissão de TV que trafega pelos fios, como um telefonema, por isso propicia muito mais qualidade de imagem, pois o sinal segue diretamente do estúdio ao aparelho de TV, sem intermediações de qualquer espécie. Se for assim, parece que a razão pela quais muitos preferem instalar a parabólica em casa está mais relacionada com a cultura do que com a técnica.
Na visão de Alvin Toffler, autor de A Terceira Onda, o homem do final do século XX está criando o que ele denominou de infosfera, isto é, independente de fronteiras, nacionalidades ou correntes políticas, um número crescente de habitantes do planeta Terra está se aproximando via informação. Por exemplo, saber o que está acontecendo a todo o momento ao redor do mundo, já passou a fazer parte do nosso cotidiano, porém devemos questionar quais são as implicações na educação de crianças e jovens, e o que a escola pode fazer diante desta realidade.
Certamente que a televisão e os meios de comunicação eletrônica já estão influenciando e influenciarão mais ainda a educação e o prcesso de ensino e aprendizagem. Por essa razão, é imperativo que os pais, a escola e seus professores, estejam conscientes da necessidade urgente de educar para a mídia, ensinando seus filhos e alunos a desenvolverem uma visão cada vez mais crítica dos conteúdos veiculados na telinha da televisão.

BIBLIOGRAFIA:
ENCICLOPÉDIA ILUSTRADA DO ESTUDANTE. 1997, p.567.
SUPERINTERESSANTE. Janeiro de 1993, p.70.
VEJA, 19 de novembro de 1997, p.31.

Autor: Jorge Schemes
Bacharel em Teologia – SALT/IAE – São Paulo - SP
Pedagogia: Habilitação em Administração Escolar e Licenciatura para as Séries Iniciais –ACE – Joinville – SC.
Pós-Graduação em Interdisciplinaridade – IBPEX/UNIVILLE.
Pós-Graduação em Psicopeagogia – IBPEX/FACINTER.
Licenciado em Ciências da Religião – Licenciatura Plena em Ensino Religioso – FURB – Blumenau – SC.
Técnico Pedagógico na GEREI de Joinville, SC.
Professor de Filosofia da Educação na ACE - Joinville, SC.

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